Janelas, minimalismo e liberdade geográfica

     Aconteceu o seguinte.

     Inicio desse ano eu teria uma viagem com alguns amigos pela Patagonia e por diversos motivos a trip acabou não acontecendo. Com uma janela aberta de um mês na agenda, já programada para a viagem e sem plano nenhum, olhei para minha mochila no canto do escritório e decidi fazer a viagem mesmo assim. A idéia era sair de Pelotas e ir até o Ushuaia, com apenas uma mochila nas costas, uma câmera e uma lente. Sozinho. Sem planos. Acabaria decidindo tudo no caminho e faria daqueles 25 dias uma experiência completamente nova para mim. Também não conhecia a Patagonia austral, então teria que me virar e descobrir na hora as melhores rotas, lidar com o clima e não deixar de buscar algo diferente a se fazer no caminho, o tempo todo. Adorei a sensação de imaginar isso e fiz minha mochila em uma tarde. Ainda precisei de alguns dias na cidade para acertar algumas coisas, deixar tudo em ordem e cumprir alguns compromissos. No primeiro dia de fevereiro eu estava em um ônibus para Montevideo e de lá acertaria o caminho até o extremo sul das Américas segundo as oportunidades que cada momento me ofereceria.

     Viajando de trem pelo deserto, pegando algumas caronas na Ruta 3 ou cruzando 1000km de estrada de chão dentro de um ônibus, acabei chegando na Tierra Del Fuego. Vendo tanta coisa passar pela janela e conhecendo gente diferente o tempo inteiro, a gente começa a repensar sobre muita coisa. Por exemplo, percebi que meu trabalho me proporciona liberdade geográfica. Não preciso morar em uma cidade pela vida toda, ter uma carreira limitada a região e tirar férias programadas como se eu ainda trabalhasse em alguma empresa, com uma rotina industrial de 9h às 17h, férias e almejando minha aposentadoria. Faz muito tempo que trabalho de domingo a domingo, não penso em me aposentar, mas me reinventar. Amo o que faço e busco acrescentar algo de positivo na vida de alguém a todo instante, não somente em horário comercial. Um tijolo após o outro. Não faço questão de descansar, não me sinto cansado fazendo isso, pelo contrário, me sinto motivado. Não preciso ter horários pra fazer o que faço, por mim faria o tempo inteiro. De qualquer lugar. Então porque não ficar um tempo nos lugares que mais curtimos? Aqueles que almejamos tirar férias uma vez por ano. Quero morar nesses lugares, conhecer gente apaixonada que não se apega a coisas materiais e corre por um propósito maior. Os resultados vêm em proporções gigantescas. Meu trabalho de fotografia com os casais que conheço ganhou em produtividade e criatividade. Me sinto muito melhor com meu corpo (agora consigo treinar em montanha e já penso em correr uma prova).

     Então descobri o minimalismo. Na verdade, final do ano passado vi um TED do Graham Hill, sobre minimalismo e aquilo não me saiu da cabeça. Vou deixar o link no final desse post. Percebi então que o que me mantinha morando em um apartamento em uma cidade no extremo sul do Brasil, era meu apego aos bens que eu havia adquirido por lá. Conforme comprávamos coisas para nós, decorávamos ou pintávamos, criávamos um vinculo, cada vez mais forte, com tudo que estava ali. Isso não é ruim, só não é a vida que busco pra mim e pra minha família. Para conseguir isso eu precisava viver com menos, ser mais simples. E quando falo simples não falo largado. Não falo de visual, falo de atitude. Pensar mais simples, agir de maneira mais simplificada, encurtar processos pra evoluir e melhorar. Inclui também se desfazer do que não é importante e ficar somente com aquilo que vai mesmo acrescentar algo na minha vida.

     Naquela trip pra Patagonia eu pude ser meu próprio estudo de caso. Não pude carregar mais que uma mochila durante o mês todo, tinha apenas uma câmera e uma lente, mas uma intenção de montar um livro lá pra casa e deixar como legado pra minha família. Depois disso, analisei diversos pontos da minha vida e só tirei alguma conclusão meses depois de voltar da viagem e exercitando tudo que aprendi. Resultado foi que evolui em todos pontos da minha vida naquele mês e em todos os seguintes. Passei a ser menos ansioso, muito mais produtivo, mais dedicado aos meus projetos e atencioso com todos a minha volta.

     Porque não querer isso pra vida toda? Não importa onde estamos no momento, o que importa é o que estamos deixando nessa vida. Importante é fazer a diferença na vida de outra pessoa, proporcionar experiências incríveis e não ser apenas um prestador de serviços que cumpre horários e recebe no final.

     Simplificar para evoluir.

Todas as fotos foram feitas enquanto transitava entre um lugar e outro de diversos meios, através da janela.

Link para o TED do Graham Hill